domingo, 23 de dezembro de 2012

A descoberta do amor



       “[...] Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em apreender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce, estava em incrível atraso em relação a outras coisas importantes. Continuo, aliás, atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais.
Até mais que treze anos, por exemplo, eu estava em atraso quanto ao que os americanos chamam de fatos da vida. Essa expressão se refere à relação profunda de amor entre um homem e uma mulher, da qual nascem os filhos. [...] Depois, com o decorrer de mais tempo, em vez de me sentir escandalizada pelo modo como uma mulher e um homem se unem, passei a achar esse modo de uma grande perfeição. E também de grande delicadeza. Já então eu me transformara numa mocinha alta, pensativa, rebelde, tudo misturado a bastante selvageria e muita timidez.
       Antes de me reconciliar com o processo da vida, no entanto, sofri muito, o que poderia ter sido evitado se um adulto responsável se tivesse encarregado de me contar como era o amor. [...] Porque o mais surpreendente é que, mesmo depois de saber de tudo, o mistério continuou intacto. Embora eu saiba que de uma planta brota uma flor, continuo surpreendida com os caminhos secretos da natureza. E se continuo até hoje com pudor não é porque ache vergonhoso, é por pudor apenas feminino.
Pois juro que a vida é bonita.”

Clarice Lispector

domingo, 4 de novembro de 2012

NÃO GOSTO DO TEU SILÊNCIO





Não gosto do teu silêncio introspectivo, calado, porque entre a palavra e os teus lábios, vivem talvez as minhas angústias.
Não te gosto assim, só, retirante, superior, porque assim parece que vives preocupado com as coisas que te rodeiam, e eu não me sinto uma delas.
É no teu olhar de preto profundo, que vejo dois estranhos pássaros noturnos e, o teu lindo olhar, apenas reflete a beleza das estrelas.
Não te gosto em silêncio meditativo, porque assim, ficas distante de mim, como se fora um combate íntimo entre a manhã e a tarde prenunciando o indeciso crepúsculo.
No teu silêncio introspectivo, parece que vives com alguém escondido em teu olhar e que ainda te fascina.
Não te gosto em silêncio, porque nesta profundeza não consigo saber, se me queres, e o teu silêncio constante martiriza e me deixa insegura, pois o amor que penso nutrir por ti se inibe, retraindo-se.
Nada deves a alguém, nem tão pouco a mim que te quero tanto – porque o teu silêncio?
Tenho te escrito poemas, baladas, simples acrósticos, de certa forma, instigando-te a romperes esta barreira, quase intransponível do teu silêncio.
Preciso da tua palavra cheia de afeto e carinho e ao mesmo tempo forte como o vento de verão, que arrasta as nuvens e o horizonte levando as folhas secas de outono, descobrindo-te ao sol para mim.
Rompe o teu silêncio e diga que me quer.
Aí sim, faremos silêncio nós dois e a quatro lábios falaremos a linguagem universal do amor.
Apenas os nossos lábios falarão e sentirei o teu hálito a se misturar com o meu, numa profusão de eternas carícias.
Teu silêncio talvez seja sábio, mas me intranquiliza  chego a imaginar que apenas me aceitas e isto evidencia “tolerâncias”, não as quero.
Se romperes o teu silêncio, amar-te-ei para sempre, voltarei a escrever poemas, baladas, canções somente para ti.
Endeusar-te-ei!
E quando estiver longe de ti, somente para ti comporei.
Um beijo em silêncio.

Eráclito Alírio

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O contrário do Amor



Vamos falar sobre indiferença. Qual é o tipo que te amedronta? Vai ai algumas opções:

1. Aquela que a pessoa que você ama não lembra que você existe.
2. Aquela que a pessoa que você ama, não ama você.
3. Aquela que a pessoa que você ama lembra que você existe, mas não dá a mínima pros seus sentimentos.
4.  Aquela que a pessoa que você ama lembra que você existe, finge que dá importância pros seus sentimentos, mas age com você da pior maneira possível.

De todas as opções, você pode escolher 1,2 ou todas. Garanto, é possível viver todos esses tipos de indiferença amando apenas uma pessoa. A partir do momento que ela não se importa com seus sentimentos ela está sendo indiferente a você. Mesmo que diga o contrário.

O contrário do Amor

O contrário de bonito é feio, de rico é pobre, de preto é branco, isso se aprende antes de entrar na escola. Se você fizer uma enquete entre as crianças, ouvirá também que o contrário do amor é o ódio. Elas estão erradas. Faça uma enquete entre adultos e descubra a resposta certa: o contrário do amor não é o ódio, é a indiferença.

O que seria preferível, que a pessoa que você ama passasse a lhe odiar, ou que lhe fosse totalmente indiferente? Que perdesse o sono imaginando maneiras de fazer você se dar mal ou que dormisse feito um anjo a noite inteira, esquecido por completo da sua existência? O ódio é também uma maneira de se estar com alguém. Já a indiferença não aceita declarações ou reclamações: seu nome não consta mais do cadastro.

Para odiar alguém, precisamos reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca sensações, por piores que sejam. Para odiar alguém, precisamos de um coração, ainda que frio, e raciocínio, ainda que doente. Para odiar alguém gastamos energia, neurônios e tempo. Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas pela face e angústia no peito. Para odiar, necessitamos do objeto do ódio, necessitamos dele nem que seja para dedicar-lhe nosso rancor, nossa ira, nossa pouca sabedoria para entendê-lo e pouco humor para aturá-lo. O ódio se tivesse uma cor, seria vermelho, tal qual a cor do amor.

Já para sermos indiferentes a alguém, precisamos do quê? De coisa alguma. A pessoa em questão pode saltar de bung-jump, assistir aula de fraque, ganhar um Oscar ou uma prisão perpétua, estamos nem aí. Não julgamos seus atos, não observamos seus modos, não testemunhamos sua existência. Ela não nos exige olhos, boca, coração, cérebro: nosso corpo ignora sua presença, e muito menos se dá conta de sua ausência. Não temos o número do telefone das pessoas para quem não ligamos. A indiferença se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada.

Uma criança nunca experimentou essa sensação: ou ela é muito amada, ou criticada pelo que apronta. Uma criança está sempre em uma das pontas da gangorra, adoração ou queixas, mas nunca é ignorada. Só bem mais tarde, quando necessitar de uma atenção que não seja materna ou paterna, é que descobrirá que o amor e o ódio habitam o mesmo universo, enquanto que a indiferença é um exílio no deserto.

O contrário do amor não é o ódio e sim a indiferença. 

Concordo,
Martha Medeiros.

sábado, 28 de julho de 2012

Saudades...



Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.
Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,
quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,
eu sinto saudades...

Sinto saudades de amigos que nunca mais vi,

de pessoas com quem não mais falei ou cruzei...

Sinto saudades da minha infância,

do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro,
do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser...

Sinto saudades do presente,

que não aproveitei de todo,
lembrando do passado
e apostando no futuro...

Sinto saudades do futuro,

que se idealizado,
provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser...

Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!

De quem disse que viria
e nem apareceu;
de quem apareceu correndo,
sem me conhecer direito,
de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.

Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito!


Daqueles que não tiveram

como me dizer adeus;
de gente que passou na calçada contrária da minha vida
e que só enxerguei de vislumbre!

Sinto saudades de coisas que tive

e de outras que não tive
mas quis muito ter!

Sinto saudades de coisas

que nem sei se existiram.

Sinto saudades de coisas sérias,

de coisas hilariantes,
de casos, de experiências...

Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia

e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!

Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!


Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar,


Sinto saudades das coisas que vivi

e das que deixei passar,
sem curtir na totalidade.

Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que...

não sei onde...
para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi...

Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades

Em japonês, em russo,
em italiano, em inglês...
mas que minha saudade,
por eu ter nascido no Brasil,
só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota.

Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria,

espontaneamente quando
estamos desesperados...
para contar dinheiro... fazer amor...
declarar sentimentos fortes...
seja lá em que lugar do mundo estejamos.

Eu acredito que um simples

"I miss you"
ou seja lá
como possamos traduzir saudade em outra língua,
nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha.

Talvez não exprima corretamente

a imensa falta
que sentimos de coisas
ou pessoas queridas.

E é por isso que eu tenho mais saudades...

Porque encontrei uma palavra
para usar todas as vezes
em que sinto este aperto no peito,
meio nostálgico, meio gostoso,
mas que funciona melhor
do que um sinal vital
quando se quer falar de vida
e de sentimentos.

Ela é a prova inequívoca

de que somos sensíveis!
De que amamos muito
o que tivemos
e lamentamos as coisas boas
que perdemos ao longo da nossa existência...

Clarice Lispector

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Fragmentos do livro O Divã, Martha Medeiros





Se ser feliz para sempre é aceitar com resignação católica o pão nosso de cada dia e sentir-se imune a todas as tentações, então é deste paraíso que quero fugir.

Tenho medo de não conseguir manter minhas ideias, meus pontos de vista, minhas escolhas (...) Eu tenho medo é da lucidez. Tenho medo dessa busca desenfreada pela verdade, pelas respostas. Eu me esgoto tentando morder meu próprio rabo (...) Ok, eu sei que jamais vou derramar um copo de cerveja na cabeça de um homem, nem vou sair nua pelos parques protestando contra o uso de casacos de pele. Eu nunca vou fazer uma extravagância, e é isso que me assusta, por que uma piração de vez em quando pode ser muito bem vinda. Eu não tenho medo de perder o senso. Eu tenho medo é desta eterna vigilância interior, tenho medo do que me impede de falhar.


Sempre desprezei as coisas mornas, as coisas que não provocam ódio nem paixão, as coisas definidas como mais ou menos. Um filme mais ou menos, um livro mais ou menos. Tudo perda de tempo. Viver tem que ser perturbador, é preciso que nossos anjos e demônios sejam despertados, e com eles sua raiva, seu orgulho, se acaso, sua adoração ou seu desprezo. O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia. (...) As coisas muito boas e as coisas muito ruins exigem explicação. Coisas mais ou menos estão explicadas por si mesmas.


Perigoso é a gente se aprisionar no que nos ensinaram como certo e nunca mais se libertar, correndo o risco de não saber mais viver sem um manual de instrução.


Sou quase oriental... sou latina muito raramente. Mais tudo mudou ando tão mexicana, por dentro quase histérica.


Eu estou apaixonada mas não é por uma pessoa. Estou apaixonada pela lembrança de algo leve, solto e rápido, como uma bola de gás que escapa da nossa mão e passa a ficar cada vez menor e mais distante. Estou apaixonada pelo impacto da vida, por um tiro certeiro e bem mirada, pelo arrebatamento provocado pelo descuido das minhas defesas.(...)

Um homem diz que você é linda, espetacular, a pessoa mais interessante que ele já conheceu e você, se tiver o miolo mole e vários anos de casada, acredita.

Talvez lembre de mim como uma mulher vivida, descolada, que lida bem com relações descartáveis, logo eu que odeio copos de plásticos, canudinhos, tudo que não dure.


Não gosto de nada que é raso, de água pela canela. Ou mergulho até encontrar o reino submerso de Atlântida, ou fico à margem, espiando de fora. Não consigo gostar mais ou menos das pessoas, e não quero essa condescendência comigo também.
Detesto dormir tarde (...) madrugada é para quem tem gás, e eu sou movida à energia solar. Uma vida sem sustos. È o que desejo pra mim. Não estou dizendo uma vida sem decepções, frustrações ou êxtases: sem sustos apenas. Quero aceitar a potência dos meus sentimentos e não ficar embaraçada diante de reações incomuns. Poder receber uma ventania de pé, mesmo que ela me desloque de onde eu estava. De pé, mesmo com medo. Não mais em posição fetal. Não gosto da vida em banho-maria, gosto de fogo, pimenta, alho, ervas, por um triz não sou uma bruxa. (...)
Não gosto que me peçam para ser boa, não me peçam nada, mesmo aquilo que eu posso dar. As relações de dependência me assustam. Não precisem de mim com hora marcada e por motivo concreto, precisem de mim a todo instante, a qualquer hora, sei ouvir o chamado silencioso da amizade verdadeira, do amor que não cobra, estarei lá sem que me vejam, sem que me percebam, sem que me avaliem.

Ando com preguiça de interpretar o mundo, de entender as pessoas, de procurar os setes erros. Gostaria de ter todas as respostas na última página, de ter um manual de atitudes sensatas, de ter pensamentos voltado pra Meca. Queria que houvesse um serviço de telessoluções entregues em domicílio em menos de meia hora. Deus, ando abençoando a alienação.

Eu me exijo desumanamente. Tenho impressão de que se eu não tiver uma vida bem argumentada ela vai se esfarelar em minhas mãos. Sou garimpeira, quero sempre cavoucar a razão de tudo, não consigo dar dois passos sem rumo determinado.

domingo, 27 de maio de 2012

É esse silêncio que me devora...





É esse silêncio que me queima, que me rasga a alma, que me aflige por inteira.
Preferia a certeza de um 'nunca mais' do que essa maldita esperança que o silêncio me traz.
Eu vejo os dias passarem e não escuto nada além do eco do vazio. Eu não enxergo nada além do reflexo do silêncio. Eu não vejo nenhuma resposta.
Isso me agoniza, faz-me perder o controle, sem fazer barulho. Deixa-me estagnada, imóvel, sem ter noção do que vai ser.
Vai me destruindo aos poucos pelo simples fato desse silêncio não permitir eu saber, de me fazer esperar, de não me deixar ser.
O silêncio machuca, e quando prolongado destrói.
Como pode o silêncio de uma única pessoa lhe atordoar por inteiro?
Não me faça esperar demais. Não me deixe tanto tempo nesse silêncio ensurdecedor. Não demore, porque assim eu vou entendendo o seu recado, e lentamente eu vou transformando essa agonia em força. Vou firmando meus passos de novo, vou sentindo a minha paz voltar.
E quanto mais o tempo vai passando, quanto mais força eu vou criando, quanto mais cansada disso tudo eu vou ficando, depois, mais tarde, com certeza vai ser tarde. "


sábado, 26 de maio de 2012

A dor e a delícia de ser intensa!



O problema em ser intensa é que intensidade assusta, afugenta, oprime. E quem é intenso corre o risco de ficar sozinho. As pessoas preferem comer pelas beiradas, ficar apenas no superficial. Conhecer dá medo, ou você passa a odiar a pessoa, ou ela te cativa de tal modo que você se torna totalmente dependente. Mas nesse mundo de fast food ninguém tem tempo para se deixar cativar, quando você tá começando a conhecer uma pessoa, ela perde a graça, passa do tempo de validade, e você parte pra outra, pra "outras". Ser intenso não é uma escolha, ou você é, ou não é. 8 ou 80, não tem meio termo, não tem mais ou menos, não tem talvez. Ou é quente, ou é frio. Ou mergulha de cabeça ou pisa em ovos. Ou vive ou apenas existe.
Eu prefiro sempre correr o risco, sofrimento não mata não, e no final eu posso dizer 'eu tentei', 'não foi minha culpa'. O amor não é um jogo, o amor acontece, é só você deixar que ele aconteça. Sem cartas marcadas, sem trapaceios, sem blefes. Não se esconda, não fuja, não minta, não omita, não esqueça, não deixe de lado, não seja indiferente. Viva, assuma, acredite, tenha coragem, queira, sonhe, deseje, se emocione, se entregue, se jogue, e o principal, AME!
 
retirado do blog http://pequenosimpasses.blogspot.com.br

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Intensidade...


Um dos sentimentos mais urgentes que tenho: Intensidade. Sou intensa em tudo o que faço. Intensidade no amor, intensidade na vida. Tudo e tão maravilhosamente intenso, que nada pode ficar pra depois... Os intensos vivem o hoje, tem necessidade do agora, e mergulham fundo seja no mar dos seus sonhos, dos seus desejos, mergulham e se doam intensamente pra tudo aquilo que cativa... Mergulham com tamanha intensidade, que nadam mais forte do que pensam ser capaz.


É importante para mim estabelecer laços fortes... Sentir a intensidade de cada coisa, de cada momento, o passional me desagrada... Jamais me contentei em molhar apenas a ponta do pé, não.. Eu gosto de ir fundo nos meus sentimentos, eu gosto de mergulhar de corpo, alma e coração... Eu gosto de mergulhar fundo... E não me importa se doer não, importa que eu sinta que eu saiba que tamanha intensidade tem um significado. Que é real... Doer só me motiva a ir mais além ainda.. A ir mais fundo, a ir além... E quem sabe descobrir a superfície.

Não sei entregar pedacinho por pedacinho, não. Eu sou toda, eu sou inteira, eu sou intensa... E é isso que faz de mim o que sou. Me apavora a ideia de ser menos intensa. Creio que passaria a vida me contentando com o pouco. Viveria com medo de arriscar e viveria a vida sem tanta liberdade, liberdade de escolher o que eu quero viver, liberdade de buscar os meus sonhos, de me flexibilizar frente a eles. Amo viver a vida intensamente, de dar espaço para as emoções, desejos, e sonhos. Amo essa intensidade que faz de mim o melhor, que faz de mim uma grande metamorfose.

Corro riscos, o tempo todo. Correr riscos me faz ter a certeza que estou fazendo tudo o que posso para ter o que eu quero, correr riscos torna a vida mais prazerosa... Corro risco de me magoar muito ou ser muito mais feliz....Deixo o sentimento me tomar por completo. Quando vivemos um sentimento bom com intensidade, vivemos um êxtase. Essa intensidade toda é que colore a vida.... Sinto tudo intensamente... Ser assim jamais me deixa correr o risco de ser uma pessoa normal, acomodada ou uma pessoa pela metade. Não. Eu sou inteira, eu sou de corpo e alma, eu sou intensa.

domingo, 13 de maio de 2012

Saudades...

Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.
Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,
quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,
eu sinto saudades...

Sinto saudades de amigos que nunca mais vi,

de pessoas com quem não mais falei ou cruzei...

Sinto saudades da minha infância,

do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro,
do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser...

Sinto saudades do presente,

que não aproveitei de todo,
lembrando do passado
e apostando no futuro...

Sinto saudades do futuro,

que se idealizado,
provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser...

Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!

De quem disse que viria
e nem apareceu;
de quem apareceu correndo,
sem me conhecer direito,
de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.

Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito!


Daqueles que não tiveram

como me dizer adeus;
de gente que passou na calçada contrária da minha vida
e que só enxerguei de vislumbre!

Sinto saudades de coisas que tive

e de outras que não tive
mas quis muito ter!

Sinto saudades de coisas

que nem sei se existiram.

Sinto saudades de coisas sérias,

de coisas hilariantes,
de casos, de experiências...

Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia

e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!

Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!

Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar,


Sinto saudades das coisas que vivi

e das que deixei passar,
sem curtir na totalidade.

Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que...

não sei onde...
para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi...

Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades

Em japonês, em russo,
em italiano, em inglês...
mas que minha saudade,
por eu ter nascido no Brasil,
só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota.

Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria,

espontaneamente quando
estamos desesperados...
para contar dinheiro... fazer amor...
declarar sentimentos fortes...
seja lá em que lugar do mundo estejamos.

Eu acredito que um simples

"I miss you"
ou seja lá
como possamos traduzir saudade em outra língua,
nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha.

Talvez não exprima corretamente

a imensa falta
que sentimos de coisas
ou pessoas queridas.

E é por isso que eu tenho mais saudades...

Porque encontrei uma palavra
para usar todas as vezes
em que sinto este aperto no peito,
meio nostálgico, meio gostoso,
mas que funciona melhor
do que um sinal vital
quando se quer falar de vida
e de sentimentos.

Ela é a prova inequívoca

de que somos sensíveis!
De que amamos muito
o que tivemos
e lamentamos as coisas boas
que perdemos ao longo da nossa existência...

Clarice Lispector